Gestão de gratidão ao Brasil: aposentado Haruji Miura envia mudas de cerejeiras para todo o Brasil

Foto: Divulgação/Miura Cerejeiras

Olhar esperto, um leve sorriso no rosto, postura ereta e usando um tradicional chapéu Panamá. Foi assim que Haruji Miura, mais conhecido como senhor Miura, nos recebeu na entrada de sua casa, no Condomínio Morro do Chapéu, para falar sobre a sua paixão pelas cerejeiras e sobre a missão que ele abraçou há mais de 40 anos, de espalhar as exuberantes árvores de origem japonesa por todo o território brasileiro.

A motivação para esse grandioso compromisso é um gesto de generosidade: ele quer agradecer ao país por ter recebido de braços abertos os imigrantes japoneses, no início do século XX. “A gratidão é um valor muito importante da cultura japonesa e essa foi a maneira que encontrei de recompensar o povo brasileiro”, explica Miura.

Com seus 97 anos bem vividos, ele também enfatiza a gratidão a Deus pelo alcance de seu projeto. E, com alegria, revela que suas cerejeiras já foram enviadas para mais de 80% dos estados brasileiros. “Falta apenas o Norte e algumas sub-regiões do Nordeste, mas vamos chegar lá”, observa.

ENCONTRO DE CULTURAS

Filho de japoneses, Haruji Miura nasceu em 1927, na cidade de Lins, em São Paulo. Seus pais vieram para o Brasil por volta de 1913, em função da Primeira Guerra Mundial, e se instalaram na Mogiana Paulista, região considerada referência na produção de café. Ali, trabalharam como agricultores e criaram os filhos. Na infância, Haruji e seus irmãos frequentaram uma escola nipo-brasileira construída pelos imigrantes e, assim, foram alfabetizados em português e em japonês.

Na vida adulta, a fluência nos dois idiomas fez toda a diferença na carreira profissional de Miura e foi fundamental para a sua contratação pela Usiminas, empresa na qual trabalhou por 28 anos. Chefe de seção, ele atuou ao lado de executivos e engenheiros brasileiros e japoneses, sendo uma figura crucial para conciliar a comunicação e o bom entendimento entre a siderúrgica e órgãos governamentais, além de empresas e entidades nipônicas. Outra de suas funções foi ajudar no recrutamento e seleção de japoneses para trabalhar na Usina de Ipatinga.

Ao se aposentar, no início da década de 1980, senhor Miura deixou uma lição de dedicação e amor ao trabalho e uma enorme saudade, pois era muito querido por todos. Durante toda a carreira, em Ipatinga e em Belo Horizonte, foi participante da antiga Caixa dos Empregados da Usiminas, a Caixinha, e aconselha os jovens a aderirem ao plano de previdência privada.

O sonho de colorir o Brasil de rosa se tornou realidade

Foto: Divulgação/Miura Cerejeiras

Para o senhor Miura, a aposentadoria nunca esteve relacionada ao desejo de parar de trabalhar. Pelo contrário, como é de costume entre os japoneses, o encerramento da carreira representou para ele a oportunidade de iniciar uma nova missão e dar vida ao sonho de espalhar cerejeiras por todo o Brasil. As “árvores-mães” das primeiras mudas foram as cinco grandes cerejeiras que o senhor Miura já havia plantado na porta de sua casa, a partir de sementes recebidas de um amigo do Japão.

Tão logo as mudas atingiram o tamanho ideal, ele as plantou no campo de golfe do Morro do Chapéu e as ofereceu a diversos condôminos, com o objetivo de transformar a paisagem do condomínio. Cerca de seis anos depois veio a primeira floração e o Morro literalmente se vestiu de rosa, dadas às centenas de cerejeiras espalhadas pelo senhor Miura. Hoje, a cerejeira é a flor símbolo do condomínio.

Para o senhor Miura, além do aspecto ambiental, o trabalho tem também um caráter cultural e pedagógico. Com o objetivo de disseminar a cultura das cerejeiras, e em perfeita sintonia com valorização dos professores, que é própria da cultura japonesa, ele ministra palestras nas escolas, ao lado do neto Henrique Miura, enfatizando para as crianças a importância da educação e o valor dos educadores.

“Nossa missão contempla a doação de mudas para escolas e entidades sociais e ambientais, que podem atuar como multiplicadoras da educação ambiental e do cultivo das cerejeiras”, explica Henrique.

LEGADO E CONTINUIDADE

Por muitos anos, Haruji Miura cuidou sozinho de todas as etapas da produção, desde o manejo das sementes até o envio das cerejeiras para pessoas que o procuravam para adquirir as mudas e plantá-las país afora. Hoje ele conta com o imprescindível apoio da família, especialmente do neto Henrique, que já assumiu com o avô o compromisso de dar continuidade ao seu legado.

Haruji Miura e o neto HenriqueFoto: Divulgação/Miura Cerejeiras

A aparição das “sakuras”, como as flores da cerejeira são chamadas no Japão, acontece em julho e dura de 10 a 15 dias. Para aproveitar ao máximo o curto período da floração, a família Miura promove anualmente o Hanami, uma tradição japonesa de contemplação das flores de cerejeira.

“O evento acontece no Morro do Chapéu e proporciona aos participantes uma experiência semelhante à do Japão, quando milhares de pessoas vão aos parques e praças para apreciar as sakuras”, explica Henrique Miura.

“E, quando a floração termina, ainda é possível observar a beleza das flores que caem no chão e formam um tapete cor de rosa”, lembra o senhor Miura. Outro detalhe destacado por ele é que as cerejeiras se adaptaram tão bem ao clima e ao solo do Brasil, que aqui elas crescem mais do que no Japão. “Originalmente as árvores são de médio porte, atingindo cerca de 12 metros de altura, mas as nossas têm alcançado até 30 metros”, orgulha-se.

Para saber mais sobre as cerejeiras do Senhor Miura e sobre o Hanami, acesse: @miuracerejeiras, no Instagram.

Clique aqui e conheça a história também do aposentado Walace Pereira.

Criado em 29.01.2025 | Atualizado em 29.01.2025

WordPress Lightbox